“Recomendaria a todas as pessoas o livro 'Jesus de Nazaré"

Afirmou o Pe. Bernardo Estrada, Professor titular de Novo Testamento na Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia da Santa Cruz de Roma. Bernardo Estrada diz também: “Quando ouvi pela primeira vez S. Josemaria, em 1975, impressionou-me a capacidade de comunicar o seu amor a Jesus Cristo. Recordo como convidava a “meter-se” frequentemente nas cenas dos Evangelhos, seguindo a vida de Jesus “como uma personagem mais”.

O livro foi publicado recentemente em alemão, italiano, polaco, inglês e francês. A obra está a ser traduzida em mais trinta línguas, entre as quais o português.

Poderia apresentar-nos o livro Jesus de Nazaré, de Bento XVI?

- É um livro escrito por um grande teólogo que, ao mesmo tempo, conhece muito bem as Sagradas Escrituras. Basta pensar que o autor foi presidente da Comissão Pontifícia Bíblica durante quase um quarto de século, sem faltar a nenhuma reunião. E isto nota-se na interpretação dos textos que comenta. O livro abrange apenas uma parte da vida de Jesus: desde o Batismo até à Transfiguração. Num segundo volume tratará da infância e do resto da vida pública que culmina no mistério pascal da Paixão, morte e ressurreição.

O autor contempla a figura de Jesus no conjunto da tradição bíblica, em que se torna evidente a unidade do Antigo e do Novo Testamento. É significativo que o prólogo do livro se inicie a falar de Moisés que se refere a um “profeta como eu que Deus suscitará” (Deut 18, 15), para esclarecer logo depois que Jesus, anunciado por Moisés, é maior que ele, porque contempla a Deus face a face (cfr. Jo 1, 18).

- Quem é Jesus para o Papa conforme o que escreveu sobre Ele no livro?

O Papa Bento XVI reconhece e aprecia todos os esforços que se fizeram na história da interpretação bíblica para conhecer a figura de Jesus. Mas ao mesmo tempo afirma que a verdadeira imagem de Jesus Cristo apenas se pode conseguir em união com a tradição que, sem desconhecer a história, apresenta Jesus ressuscitado de entre os mortos e Salvador dos homens. Por essa razão, no início do livro, diz que o seu ponto de partida é a convicção, proveniente da fé, que Jesus Cristo é Filho de Deus. Evita-se a contraposição entre fé e história, pois o Jesus dos Evangelhos é a figura histórica que a fé da Igreja proclama.

É a fé professada no Concílio de Calcedônia sobre a pessoa do Verbo Incarnado, Deus e homem verdadeiro. Desta perspectiva o autor contempla e analisa diversas cenas da vida de Jesus, com a preocupação de tirar ensinamentos para os cristãos de hoje, mostrando que a pessoa de Jesus Cristo é sempre atual, não conhece ocaso.

- A quem recomendaria a leitura do livro?

Sem deixar de ser um teólogo, o Papa Ratzinger é acessível no seu livro a qualquer cristão que tenha um mínimo de formação religiosa, conhecimentos básicos do Catecismo da Igreja Católica, e um pouco de familiaridade com o texto do Evangelho. Por isso recomendá-lo-ia a todas as pessoas, sabendo-se que a sua linguagem é clara e direta. É certo que há algumas referências eruditas, próprias de um estudioso da teologia que conhece a Bíblia; elas, no entanto não são um entrave para uma leitura fluente e – na minha opinião – agradável.

- Conhece muito bem S. Josemaria Escrivá. Tê-lo-á inclusivamente ouvido falar de Jesus de Nazaré. A leitura do livro do Papa, trouxe-lhe à lembrança algum ensinamento de S. Josemaria sobre Jesus Cristo?

Quando ouvi pela primeira vez S. Josemaria, em 1975, impressionou-me a capacidade de comunicar o seu amor a Jesus Cristo. Recordo como convidava a “meter-se” frequentemente nas cenas dos Evangelhos, seguindo a vida de Jesus “como uma personagem mais”. Procurando alguns pontos de convergência com o livro do Papa, diria que o apelo que nele faz de “beber nas fontes da palavra de Deus” é algo que S. Josemaria procurou viver desde o início do seu sacerdócio: chamava a atenção o conhecimento que tinha do Evangelho. Outro ponto seria o de fazer de Jesus o coração e o centro do cristianismo, coisa lógica e natural, mas que nem sempre se põe em prática.