Chegar ao céu pintando!

Paola Grossi Gondi, pintora, Itália

As obras de um artista – explica Paola – são o espelho dos seus pensamentos e das suas experiências pessoais. O artista interpela a realidade que o circunda, em busca da verdade e de respostas. Pessoalmente, na minha pintura, quis refletir sobre aquilo que sempre me tocou: os pormenores. As minhas pinturas são enquadramentos precisos e bem delimitados de um pequeno espaço. Muitas vezes são espaços do cotidiano, vistos em situações de grande normalidade, por exemplo caminhando pela rua ou observando o interior de um quarto.

- Tudo isso provoca alguma reflexão?

Graças à descoberta dos pormenores, percebi como a realidade que nos rodeia era rica. Sentia que este meu caminho me dava muita alegria e compreendi algumas respostas que procurava. Emocionava-me sempre que dava conta da riqueza de tantas coisas pequenas e pensava que alguém as tinha posto ali à nossa disposição para as podermos desfrutar, mas ignorava o motivo.

- Foi através desse percurso, que chegou ao conhecimento do Opus Dei?

Prefiro falar de um encontro com pessoas do Opus Dei. A Obra, de fato, não é qualquer coisa de abstrato mas uma realidade que se concretiza na vida vivida. Essas pessoas, apaixonadas pela arte, ajudaram-me a encontrar as explicações que procurava. Graças a elas, compreendi que todas as coisas belas que nos rodeiam, foram aqui postas pelo Criador. Compreendi ter recebido de Deus o talento de descobrir essa beleza e de reelaborá-la. Descobrir o Seu amor infinito ajudou-me a dar um passo em frente, como mulher e como artista

- O que mudou, concretamente, na sua vida?

Nada. Continuei a procurar revelar, através da minha pintura, a beleza dos pequenos pormenores, mas com a consciência de que faziam parte de um projeto maior, fantástico e universal: o projeto de um Deus que também é Pai; um Criador que pôs à nossa disposição tantas coisas maravilhosas. Obviamente, a vida encerra sempre as suas incertezas, os seus obstáculos, os seus altos e baixos, mas com um Pai assim, é belo enfrentá-la.

- Em que medida é importante ter uma vida espiritual?

A consciência de se ser filho de Deus, ajuda-nos a entender melhor a nossa missão sobre esta terra, leva-nos a tomar consciência da própria dignidade e a corrigir algumas situações. Os artistas, por exemplo, são um pouco egocêntricos e têm uma grande vontade de ‘chamar a atenção’. Graças à vida espiritual, tudo isto, é corretamente redimensionado. Pessoalmente, compreendi que estava neste mundo sobretudo para servir e, portanto, a minha arte, não era outra coisa senão um serviço.

- Que mensagem sente ter recebido, pessoalmente, da formação no Opus Dei?

A mensagem que todos recebemos de Josemaria Escrivá: o apelo para santificar a vida cotidiana, não através de ações extraordinárias, mas nas circunstâncias normais do nosso dia. Chegar ao céu pintando!

- Os seus quadros reproduzem pequenos pormenores. Podem considerar-se, em certo sentido, uma metáfora da mensagem do Opus Dei?”

Josemaria Escrivá convidou-nos a descobrir a importância dos pequenos gestos de amor na vida cotidiana. Quando, há alguns anos atrás, encontrei as primeiras pessoas do Opus Dei, compreendi que existia entre nós uma afinidade. Foi muito bonito terem-me começado a explicar a mensagem da Obra, olhando para os meus quadros. Chamavam a atenção para a importância dos pequenos gestos da vida diária, tão semelhantes àqueles pequenos pormenores que eu sempre tinha gostado de captar na minha pintura.

- O que descobriu de novo nesses pequenos pormenores?

O infinito amor de Deus. A consciência do grande dom que o Senhor nos quis fazer. No fundo, a mesma coisa pode acontecer na nossa vida: damo-nos conta do amor de alguém através das pequenas atenções que tem para conosco, dos pormenores e não das grandes promessas. Assim, eu posso sentir o amor de Deus através de um simples raio de luz que entra no meu quarto. As pessoas da Obra ajudaram-me a compreender tudo isto. Uma pequena poça de água pode refletir o céu infinito.