Diretora da empresa familiar

Cecília Royals, EUA, Presidente do NIW (Instituto Nacional da Mulher), mãe de família, Estados Unidos

Casada e mãe de 8 filhos, dois deles com síndrome de Down. Presidente do NIW (Instituto Nacional da Mulher). Participou em conferências das Nações Unidas e falou perante o Departamento de Relações Internacionais do Senado dos EUA e em Comissões do Congresso. Toma parte e intervém em numerosas Conferências Internacionais sobre a Mulher, Família, Educação e Sociedade.

A influência de Josemaria Escrivá foi decisiva na minha vida. Tocou o mais íntimo do meu ser e deu sentido à minha vida. Ensinou-me a amar o trabalho como uma oferenda a Deus unida ao Sacrifício da Missa para a minha santificação e a do mundo inteiro. Ensinou-me a fazê-lo o melhor possível para a glória de Deus, e a ser uma oferenda digna de Deus. Ensinou-me a amar o trabalho normal e corrente, a dedicar o tempo e o estudo necessários para melhorar a minha eficácia. E aprendi gradualmente a alargar o âmbito do meu trabalho, a não me acobardar, a fazer mais, antes e melhor.

Sou dona de casa. Dedico todo o meu tempo e os meus talentos à família. Em Maio faremos 24 anos de casados. O meu marido e eu temos quatro filhos e quatro filhas. A mais velha tem 22 anos, e o mais novo, sete. São todos uns encantos e as suas vidas foram-se forjando com os altos e baixos dos filhos de qualquer parte do mundo.

No entanto, tivemos problemas com a saúde dos filhos a começar com o parto difícil do nosso primeiro filho que desde então teve de ser submetido a diversas transfusões de sangue, sofreu várias fraturas, foi operado três vezes ao coração e tiveram que lhe mudar três vezes os pacemakers porque não funcionavam bem. Dois filhos nasceram com síndrome de Down, com dificuldades na fala, atraso no desenvolvimento, necessitando terapia física e educação especial.

A nossa tarefa de pais é muito diferente de qualquer outro trabalho. Contando só com a dedicação à família, esta pode abarcar as 24 horas do dia, e de fato assim sucedeu durante bastante tempo. De princípio a vontade de ser eficaz no meu trabalho centrava-se no núcleo da minha família. Tinha de preparar bem o jantar para o meu marido, e também estimular as mentes em pleno desenvolvimento dos filhos ainda pequenos. Era necessário corrigir os defeitos, observar e instruí-los no crescimento das virtudes. Por vezes gastava-me no trabalho da casa: dar cinco medicamentos diferentes à minha filha que tem insuficiência cardíaca, tratar da roupa, limpar o pó, estudar e planificar as ementas de acordo com as alergias de alguns dos filhos. E não era só planear e cozinhar bem a ementa de uma semana mas também a da 27ª semana, e a da 351ª, até à 7221ª e seguintes. Havia muitos pormenores a ter em conta e parecia-me que tinha pouco tempo.

Percebi que as minhas 24 horas tinham de incluir o dar-me a outras pessoas.

Pouco a pouco percebi que as minhas 24 horas tinham de incluir o dar-me a outras pessoas. Vi que tinha de ser mais generosa e que podia pôr os talentos ao serviço dos outros, que podia ajudar mais os meus amigos e conhecidos se estava com eles com alguma regularidade. A ideia de tirar tempo com frequência para as minhas amigas abriu-me novas possibilidades que teria posto de parte se me tivesse deixado levar pelas ocorrências e horários da minha vida. Por outras palavras, ao não ter um plano, havia negligência da minha parte.

A mensagem de Josemaria Escrivá abriu-me novas perspectivas de serviço a outras pessoas. De princípio tudo era simples: meti-me num clube de leitura. Reuníamo-nos umas tantas amigas uma vez por mês para comentar um livro. Muitas vezes falávamos de temas da atualidade. Nestas conversas comentávamos a necessidade de haver mulheres com critério sobre o que é ser mulher, que devíamos influir no debate público. Passado não muito tempo demo-nos conta de que não eram outras pessoas que tinham de fazer isso, mas que era uma oportunidade para nós próprias. Os ensinamentos de S. Josemaria levaram-me a mudar de atitude; anteriormente era tudo teoria e foi então que decidi levá-lo à prática; de princípio via com clareza que alguém tinha de fazê-lo mas, depois, vi nitidamente que eu própria tinha de dar o melhor de mim mesma a esta tarefa.

O trabalho em favor da minha família tem de ser também em favor da família em geral. Se eu peço ao município melhores estradas ou luto nas Nações Unidas por uma liberdade fundamental, estou a fazer o trabalho de uma mãe de família, estou a trabalhar para os meus filhos e para os filhos dos meus filhos, estou a trabalhar pelos meus vizinhos e suas famílias, estou a trabalhar pelos que ainda não constituíram família. Este trabalho de converter a nossa civilização numa família onde a pessoa humana pode prosperar, é o trabalho de uma mãe de família. É o meu trabalho.

Deixem-me agora contar-lhes alguma coisa sobre o Instituto que fundamos. O Instituto Nacional da Mulher (NIW) procura tornar as mulheres conscientes da dignidade de serem mulheres e de criarem e manterem uma cultura de respeito pela mulher. O NIW é já uma forte corrente de pensamento que trabalha com objetivos importantes promovendo um diálogo construtivo sobre temas relacionados com o desenvolvimento da pessoa, da família e da sociedade, através da opinião pública, da análise de diversas formas de governo e da formação de líderes. Também proporcionamos investigação às ONG e aos que participam em conferências nas Nações Unidas ou em outras conferências internacionais sobre temas relacionados com a mulher.

Os esforços realizados para manter as atividades com certa regularidade tornaram-se num grande desafio. Por vezes devido às necessidades dos nossos filhos, tivemos de suspender os debates mensais e a publicação dos nossos boletins informativos. Nós não nos podemos movimentar com a mesma velocidade das Nações Unidas. Contribuímos com o que podemos e quando podemos. Nesta empresa em que estamos metidas as coisas levam décadas para mudar ou mesmo séculos. Neste trabalho torna-se necessário dar uma grande importância ás pessoas que conhecemos, às conversas que se geraram e às pontes que construímos. Nunca teria sonhado poder conhecer e ser amiga dessas pessoas se não tivesse sido pelo impulso recebido através dos ensinamentos de S. Josemaria.

Tanto a minha família como o NIW podem preencher todas as horas de uma semana; e o tempo a dedicar a cada um não seria, mesmo assim, suficiente. É então quando vem em minha ajuda, uma vez mais, S. Josemaria. Deu-nos tantos exemplos e modos de atuar para perseverar até ao fim! Por exemplo, as suas sugestões sobre como viver a ordem e o aproveitamento do tempo são muito úteis para melhorar o rendimento efetivo. De entre as muitas coisas que é preciso fazer, com um pouco de sentido comum, podemos discernir que tarefas é possível delegar e delegá-las. Resumindo, delego a lavagem da roupa e o passar a ferro. Na nossa casa cada pessoa com mais de dez anos responsabiliza-se pela sua roupa, incluindo o meu marido. Ensinamos os filhos a utilizar as máquinas, a ter um horário e, conforme vão crescendo, a deitar uma mão à lavagem de certas peças de roupa, e a ajudar os menores. O meu marido foi o que mais fomentou esta disciplina dando o exemplo, principalmente quando as coisas não estão a correr bem. Por minha parte, preparo as refeições, e os filhos fazem a sobremesa, biscoitos, bolachas com pepitas de chocolate.

É evidente que quer a minha família quer o NIW exigem de mim, por vezes, um esforço suplementar que acarreta mudanças nos compromissos. Estes imprevistos são muito frequentes na minha família, diria até que são quase normais. Por isso esforçamo-nos por restringir os trabalhos extra, a fim de nos podermos reorganizar antes da crise que se segue.

Com o tempo, mudaram as exigências do meu horário e aprendi a organizar as prioridades. Fiz esforços no sentido de manter o equilíbrio entre todas as facetas da minha vocação de mãe de família. Exige aprender a centrar esforços naquilo que é mais importante e não naquilo que é mais urgente. Pode suceder que o mais urgente seja a compra de uns tênis, levar o carro à oficina, a angariação de fundos para o Instituto e fazer uma arrumação geral num dos quartos de dormir. Será preciso fazer estas coisas, mas é preciso reservar tempo para estudar, escrever e responder às questões do nosso tempo.

Para mim, manter o equilíbrio não consiste em fazer tudo perfeito, mas em saber que tarefa está a exigir a minha atenção agora e qual pode esperar. E isto consiste em redirecionar os esforços, quando for necessário, até chegar ao fim, e em saber que mais cedo ou mais tarde lá chegaremos se for importante. Significa igualmente desprender-se de muitas manias, de procurar prestígio pessoal, e estar sempre com os olhos postos na meta embora estejamos a ir em direção contrária. Parece-se muito à navegação à vela: o percurso do ponto A ao ponto B é tortuoso.