"Falemos dos sacramentos"

De 9 a 17 de Junho de 1970, SãoJosemaria esteve a viver junto da lagoa de Chapala. Ali se reuniu com pessoas muito diversas. Numa ocasião, falou sobre os sacramentos do Matrimônio, da Eucaristia e da Penitência.

A lagoa de Chapala é a maior da República Mexicana e aparece nos antigos mapas da Nova Galiza como Mar Chapalico. Perto das suas margens está Jaltepec, casa de retiros do Opus Dei, a cinquenta quilômetros de Guadalajara, capital do Estado de Jalisco, e dos seus terraços vislumbra-se um amplo panorama da lagoa, rodeada de colinas salpicadas de pequenas casas de telhados vermelhos. Essa lagoa inspirou a famosa canção que diz: Chapala, / cantinho de amor, / onde as almas / costumam falar / de tu a tu com Deus.

Ali, junto da lagoa de Chapala, de 9 a 17 de Junho, vivi com o Padre, e houve tertúlias com assistência de todo o tipo de pessoas. Numa ocasião, reuniu-se com um grupo numeroso de casais: uns eram do Opus Dei, outros cooperadores ou amigos.

- Se tiverem paciência – disse-lhes –, gostaria de vos falar de três sacramentos especialmente, têm paciência?

- Sim, Padre – responderam em uníssono –, como não!

O matrimônio

- Vamos começar pelo sacramento do matrimônio. É um sacramento abençoado, que Deus quis dar aos seus filhos, aos cristãos, como um meio de santidade maravilhoso. Porque o matrimônio exige muito sacrifício, mas quanto bem-estar, quanta paz e quanto consolo proporciona! E se não é assim, é porque os esposos não são bons.

O sacramento do matrimônio proporciona graças espirituais, ajuda do céu, para o marido e a mulher poderem ser felizes e trazer filhos ao mundo. Secar as fontes da vida é um crime horrível e, neste país, uma traição à Pátria, que necessita de muitos mexicanos.

É bom e santo que se amem. Abençoo-vos, e abençoo o vosso carinho, como abençoo o carinho dos meus pais: com estas duas mãos de sacerdote. Procurem ser felizes no matrimônio. Se o não são, é porque não querem. O Senhor dá os meios… Mudem, se é preciso mudar; amem as vossas mulheres, respeitem-nas; dediquem aos filhos o tempo necessário.

A Eucaristia

- Vou falar-lhes agora da Sagrada Eucaristia… Direi o que talvez já tenha dito, com esta, centenas de vezes no México, e milhares de vezes desde que sou sacerdote, porque amo de todo o coração a Jesus nosso Salvador, que é perfeito Deus e perfeito Homem.

Depois de explicar as razões de Nosso Senhor para instituir este sacramento, comentou: “Sejamos agradecidos. O que não faríamos por uma pessoa que tivesse feito a mínima parte disto, por nosso amor? Amem o Senhor no santíssimo Sacramento. Quando entrarem numa igreja, em primeiro lugar, o Tabernáculo, o Sacrário, e digam-lhe: creio, ainda que muitos e muitos homens digam que não acreditam. Mais ainda: creio em nome deles”.

O sacramento do Perdão

- O sacramento da Penitência limpa-nos, faz-nos menos soberbos, restitui à nossa vida a alegria, se a tivermos perdido. Se formos confessar as nossas faltas, com as condições que sabemos do catecismo que estudamos quando crianças, o sacerdote absolve-nos, mesmo dos maiores crimes. Mas eu aconselho que vão à confissão com frequência, ainda que não haja pecados grandes para perdoar. O sacramento da Penitência robustece a alma, dá-lhe novas forças, fá-la capaz de coisas mais cristãs e mais heróicas.

Meus filhos, estou certo que, se falasse com cada um de vós, encontraria coisas heróicas na vossa vida, ainda que não vos pareça; pelo menos, o heroísmo da vida vulgar, corrente, vivida de um modo honrado. Amemos o sacramento da penitência.

“Ojalateros”

“Sobre este último ponto – a santificação da vida corrente – falou-nos com frequência durante a sua estadia no México. “Que trabalho é mais belo? – dizia-nos – o que realiza uma mulher do campo ou um deputado no Parlamento? Não sei: o que for feito com mais amor de Deus e mais rectidão de intenção. Está claro? Todos os trabalhos dos homens são santos, pelo menos podem santificar-se. E Deus nosso Senhor pediu-me a mim, na altura muito jovem, que dissesse às pessoas do mundo que não procurassem desculpas. Àqueles que as procuram chamo-lhes “ojalateros”: oxalá não me tivesse casado; oxalá não fosse médico; oxalá não fosse…: oxalá não tivesse esta sogra: Todos “ojalateros”!

“Não senhor; com sogra, casados, solteiros, o que for; na oficina, na fábrica, no campo, na Universidade, no Parlamento, todos podem ser santos, se quiserem; basta que de verdade queiram, e ponham os meios que um bom cristão deve pôr”.

CASCIARO, Pedro, “Soñad e os quedaréis cortos”, cap. 13, “El Padre en México”