Quando se sente a picadela
Quando nós, os cristãos, passamos mal, é porque não damos a esta vida todo o seu sentido divino.
Onde a mão sente a picada dos espinhos, os olhos descobrem um ramo de rosas esplêndidas, cheias de aroma.
Via Sacra, Sexta Estação, p. 5
Lamentas-te?... E explicas-me, como se tivesse razão: Uma alfinetada!... outra!...Mas não reparas que é uma tolice surpreender-nos por haver espinhos entre as rosas?
Convenceu-me aquele sacerdote amigo nosso. Falava-me da sua atividade apostólica, e me assegurava que não há ocupações pouco importantes. Debaixo deste campo coalhado de rosas - dizia, esconde-se o esforço silencioso de tantas algumas que, com o seu trabalho e oração, com a sua oração e trabalho, conseguiram do Céu uma torrente de chuvas da graça, que tudo fecunda.
Sinal do caminho verdadeiro
Esse caminho é muito difícil, disse-te ele. E, ao ouvi-lo, o concordaste ufano, lembrando-te de que a Cruz é o sinal certo do caminho verdadeiro... Mas o teu amigo reparou somente na parte áspera da senda, sem ter em conta a promessa de Jesus; “O meu jugo é suave”. Lembra-lhe isso, porque - quando o souber - talvez se entregue.
Não basta que sejas bom: tens de parecê-lo. Que dirias de uma roseira que não produzisse senão espinhos?
A chamada do Senhor - a vocação - apresenta-se sempre assim: “Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”. Sim, a vocação exige renúncia, sacrifício. Mas como se torna prazeroso o sacrifício "gaudium cum pace", alegria e paz -, se a renúncia é completa!
O cristão triunfa sempre do algo da Cruz, a partir da sua própria renúncia, porque assim deixa atuar a Onipotência divina.
Distintivo do cristão
A Cruz sobre o teu peito?... - Está bem. Mas... a Cruz sobre os teus ombros, a Cruz na tua carne, a Cruz na tua inteligência. - Assim viverás por Cristo, com Cristo e em Cristo; só assim serás apóstolo.
Quando vires uma pobre Cruz de madeira, só, desprezível e sem valor... e sem Crucificado, não esqueças que essa Cruz é a tua Cruz: a de cada dia, a escondida, sem brilho e sem consolação..., que está esperando o Crucificado que lhe falta. E esse Crucificado tens que ser tu.
Deixa-me que, como até agora, continue a falar-te em confidência: basta-me ter diante de mim um Crucifixo, para não me atrever a falar dos meus sofrimentos... E não me importo de acrescentar que tenho sofrido muito, sempre com alegria.
Amor real
Uma picadela. - E outra. E outra. - Agüenta-as, faz favor! Não vês que és tão pequeno que só podes oferecer na tua vida - no teu pequeno caminho - essas pequenas cruzes?
Além disso, repara: uma cruz sobre outra - uma picadela... e outra..., que grande montão!
No fim, menino, soubeste fazer uma coisa muito grande: Amar.
Perguntaste-me se tenho cruz. E te respondi que sim, que nós sempre temos Cruz. - Mas uma Cruz gloriosa, cunho divino, garantia de autenticidade de sermos filhos de Deus. Por isso, sempre caminhamos felizes com a Cruz.