Lugares que São Josemaria Escrivá conheceu no Brasil

No artigo relatam-se pormenores sobre a estadia de São Josemaria no Brasil, durante a viagem de catequese que levou a cabo em 1974 e alguns lugares que visitou.

São Josemaria fez uma romaria à Aparecida em maio de 1974.

Às 18 horas e 18 minutos do dia 22 de maio de 1974, S. Josemaria chega ao aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro. O avião aproxima-se com as luzes acesas sobre as águas da baía, até se fazer à pista de aterragem.

Quando o avião se aproxima do Rio de Janeiro, o sol põe-se sobre a baía de Guanabara, iluminando a cidade

Desde o dia 22 de maio até 7 de junho fala sem descanso em tertúlias com um número reduzido de pessoas e em grandes reuniões. Nalguns casos os assistentes excedem a capacidade de os acolher e é preciso preparar grandes salas públicas, como o Palácio das Convenções de São Paulo, Anhembi e Mauá. Estes lugares abrem as portas a uma multidão que deseja conhecê-lo, ouvir a palavra deste sacerdote que não fala senão de Deus. “Vim ao Brasil para aprender. Vêm do Velho Mundo e dizem que vêm ensinar. Não! Eu vim para aprender. Estou aqui há quarenta e e oito horas e já aprendi muito. Aprendi que este país é maravilhoso, que há almas vibrantes, que há gente que vale um tesouro diante de Deus Nosso Senhor: que sabem trabalhar e abrir caminho; que sabem formar famílias numerosas, recebendo os filhos como aquilo que são: um dom de Deus”. E noutra ocasião comentou: “O Brasil! A primeira coisa que vi foi um mãe grande, fecunda, terna, que abre os braços a todos sem distinção de línguas, de raças, de nações, e a todos chama filhos. Grande coisa é o Brasil. Depois vi que vos tratais de um modo fraterno, e emocionei-me”.

No segundo dia no Brasil, ao voltar de um passeio – tinha de andar a pé – ao Jardim Botânico, S. Josemaria estava recolhido em oração. O carro deteve-se num cruzamento com bastante trânsito, à espera que o semáforo passasse a verde. De repente quebrou o silêncio, com uma alegria que transparecia, e disse aos que o acompanhavam:

- “Acabo de ver como meter São José nos mistérios dolorosos!”

Nessa época estava a esforçar-se por “meter” São José nos atos de piedade. Nos mistérios gozosos é fácil: sempre está próximo, ou junto de Maria. Nos gloriosos também: o santo patriarca já tinha falecido e no Céu é fácil vê-lo, acolher Jesus na Ascensão… A solução que encontrou tem a simplicidade da vida de infância espiritual: uma brincadeira. Depois, explicou: nos mistérios dolorosos, quando São José não está presente. Então digo para mim: “ponho-me no lugar dele”.

Foi neste cruzamento que S. Josemaria “descobriu” como meter São José nos mistérios dolorosos do Terço.

No Parque Anhembi, junto do rio Tietê, ergue-se o Palácio das Convenções. É um edifício novo, de abóboda elíptica, destinado a congressos e exposições. Tem uma capacidade de quatro mil pessoas. No dia 1 de junho, véspera de Pentecostes, encher-se-á, ficará a cunha.

No dia 2 de junho, também o Palácio de Mauá se encherá. O Padre fala devagar, e as suas palavras traduzem-se com os gestos, com o afeto e com a boa vontade de muitos que, no meio do público, seguem e facilitam a compreensão das suas palavras aos que têm por ali perto. Nesta reunião os temas aflorados são muitos. E o Padre irá engastando, em cada um, além da dimensão humana, o espírito da Obra que anima a sua voz. De repente levanta-se um jovem de cabelos compridos, um representante dos quebram esquemas e atitudes daqueles que os precederam:

- “Padre, que tem para nos dizer a nós cabeludos?”

- “Ouve, meu filho, aos que usam o cabelo comprido digo que gosto tanto deles, como dos que usam o cabelo curto. Cabelo comprido ou curto são coisas de pouca importância. O que interessa é ter vontade forte e não débil, uma vida limpa e não uma vida… sporca, como dizem os italianos. O que tem importância é ter olhos limpos ou olhos que não se podem olhar”.

Fala aos pais para que tenham uma grande generosidade quando entregam os filhos a Deus se Ele os chamar pelo caminho de uma entrega total aos outros.

No dia 28 de maio foi de helicóptero ao santuário da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, onde centenas de pessoas o acompanharam na recitação do Terço. O fundador do Opus Dei ajoelha-se no chão do presbitério; a seu lado, D. Álvaro e D. Javier. Começam a rezar em português o Terço. Com o olhar posto na pequena imagem, o Padre responde em voz baixa às orações. Pausadamente, em uníssono, toda a igreja reza em voz alta. Quando acabam, o Padre levanta-se e vai dando a volta ao altar pelo lado direito, para subir até ao trono de Nossa Senhora Aparecida. Olha durante uns instantes para a imagem da Virgem e beija o escudo. No dia seguinte comenta: -“Com que alegria fui a Aparecida! Com que fé rezáveis todos! Eu disse à Mãe de Deus, que é vossa Mãe e minha: Minha Mãe: Mãe nossa, eu rezo com toda esta fé dos meus filhos. Amamos-te muito, muito… E parecia-me escutar, no fundo do coração: com obras!”

Aproxima-se o dia 7 de junho, último dia da estadia no Brasil, e todos guardam as recordações no melhor recanto da alma. Ainda não partiu e já começam a sentir saudades. Saudades, palavra bem portuguesa.

-“Ficais muito pensativos. É por ser o último dia…, mas estais com um ar tão solene, e nós não temos solenidades…

A saudade… - sorri o Pare – incomincia la nostalgia. Mas não quero falar mais disto, porque ficais muito sérios, e também eu me ponho sério sem dar por isso. Além disso, eu não me vou embora. Fico. É verdade, que fico: deixo-vos o meu coração com muito gosto. Também preciso de cada um de vós: porque Deus também precisa, ainda que não precise de ninguém (…). Vou lembrar-me de cada um, vou passar-vos em revista; e ajudar-me-eis a ser melhor, com a lembrança, com o pensamento… Isto é humano! Há uma espécie de canção popular espanhola que diz: “a ausência é ar que apaga o fogo fraco e ateia o forte”. Assim, quando eu me for embora, amar-vos-ei, se é possível, ainda mais; e estarei aqui mais do que estou agora…”

No dia 7 de junho amanhece com chuva. Um carro que atravessa São Paulo leva o Padre. No aeroporto internacional de Viracopos levanta voo o avião para o transportar à imensa pampa argentina.

(Para saber mais sobre a viagem de S. Josemaria ao Brasil ver o testemunho do Pe. Francisco Faus)

Tempo de caminhar. Ana Sastre, pp. 559-566.

Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Dei III. Andrés Vázquez de Prada